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sexta-feira, novembro 19, 2004

Homens importantes 

São normalmente inflexíveis. Distantes. Muito poderosos. Quando nos olham, medem-nos a alma, ao mesmo tempo que nos testam o pulso. São donos de impérios económicos. Mas são pessoas. E nalguns casos, são pais.
Há uns dias estive com um destes homens. A ocasião era de festa. Descontraída. Mas ele lá estava. Rodeado pelas pessoas que dependem dele. Que o olham com respeito, e atrevo-me a dizer, com temor. Estava jovial, mas sempre com uma postura de domínio sobre tudo o que o rodeava. Os filhos também lá estavam E pareciam ser os únicos que o olhavam de maneira diferente. Para eles, aquele homem não era a pedra basilar de um edifício empresarial. Era o pai. E estava em casa. Numa festa. Por isso, também para os miúdos, era uma noite especial.
A meio da noite, houve um momento de música. A sala organizou-se para ouvir, ao vivo, as vozes lamentadas do fado. As atenções de todos estavam nas guitarras, nas vozes. Mas não sei porquê, o meu olhar resvalou para aquele homem.
Tinha-se sentado no chão. E a filha mais nova estava sentada ao colo dele. Ele beijava-lhe os cabelos com muita ternura e ela sorria, animada.
Talvez porque eu me apanhe muitas vezes naquela mesma posição com o meu filho. Talvez porque a ternura e a humanidade do momento me fizeram repensar aquele homem, naquele ambiente. A verdade é que me comovi.
Um homem, por mais poderoso que seja, só é verdadeiramente um homem, quando é capaz de beijar um filho e o acolher no seu colo em qualquer ocasião, mesmo quando à sua volta estão as pessoas que dependem dele, que trabalham para ele, que o veneram. Naquela noite, tive a certeza que aquele era um homem importante. Não sei bem porquê, mas fez-me sentir muito mais seguro...


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