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quarta-feira, julho 07, 2004

Armazéns 

Adoro grandes armazéns. É uma coisa que me ficou de pequenino. A minha avó paterna sempre me contou as histórias de prateleiras e prateleiras de doces que enfeitavam o harrods em Londres, onde a rainha Vitória entrava e escolhia as coisas sem pagar... Era Rainha... Para a Rainha era como se fosse à dispensa lá de casa!Eu imaginava as filas de brinquedos e os quilómetros de escadas rolantes... Quando era miúdo, tive o privilégio de ainda visitar o Grandela e o Chiado antes de arderem, pela mãe da minha avó materna. O labirinto dos stands e as cores escuras das escadas eram inebriantes... De sonho.
Desde pequeno, os grandes armazéns são, para mim, como os grandes museus. A maneira como os artigos estão expostos, os empregados, a cultura de armazém tem um lado de Velha Europa que me seduz. Chamem-me foleiro... mas é assim mesmo que eu os sinto.
Nos dias que correm, uma visita ao El Corte Inglés é, por isso, mais do que uma visita ao antro do consumismo e dos saldos porreiros. É uma viagem ao meu imaginário. A Londres e Paris. Às prateleiras cheias de brinquedos e àquele cheiro a esperança e a fartura que antecede o Natal. E que se entrenha por todo o lado, à mistura com o frio de Dezembro.
Ontem, foi a vez de levar o meu filhote nessa viagem. É preciso dizer desde já que, qualquer ida com o meu filho a uma grande superfície é, por estes dias, uma aventura. Está numa fase em que de um momento para outro se tramnsforma de menino bem comportado, sentado no seu carrinho, tipo bebé Chicco, numa peste que só quer correr para todo o lado, derrubar prateleiras e fazer estragos. Já banimos do nosso itenerário o Carrefour e o Continente...
Mas o Corte Inglés, é o Corte Inglés... Pensava eu... Um armazém assim é um mundo para uma criança e ele vai distrair-se! Vais ser fixe!
Engano puro! Acabou por ser a mesma coisa de sempre. O pai experimenta sapatos enquanto a mãe passeia com o filho por todo o piso. Depois é o pai que dá voltas e mais voltas na secção de Desporto, enquanto a mãe compra umas calças! Um tormento! E para piorar, o meu fiho desenvolveu uma obsessão por bolas de futebol desde o Euro 2004. Ontem não para de gritar «Bóla!» para tudo o que era lado... E derrubava todas as bolas de futebol que encontrava pela frente! AInda tenteiu apresentar-lhe as bolas de basquete..: mas foi pior a emenda que o soneto!
Mas, bem vistas as coisas, o saldo não foi negativo. O Corte Inglés é, para já, a grande superfície onde ele se portou melhor. Sobrevivemos sem termos que entrar em despesas... E os saldos são mesmo óptimos!
Além disso, os elevadores panorâmicos foram um sucesso! Já combinei com a mãe. Da próxima vez, um de nós fica com ele a andar da subcave para o quinto andar e para baixo, vezes sem conta, enquanto o outro vai fazer compras... Depois trocamos.

E nuestros niños? 

Não há bela sem senão.
É o maior Corte Inglés da Península. Tem o melhor supermercado de Lisboa. Os saldos são fabulosos! As áreas de produtos de desporto e para a casa são imperdíveis.
Mas não tem duas coisas essenciais para famílias! Lugares de estacionamento no parque para Pais com crianças e caixas prioritárias no supermercado! Imperdoável.
Até porque o parque tem lugares hiper espaçosos para deficientes e o supermercado tem empregados muito simpáticos que estão sempre prontos ajudar.
É caso para perguntar aos «nuestros hermanos»
: Coño! qué pasa tios? Que non entienden que tenemos hijos?! E nuestros niños?!

Depois admiram-se que a taxa da natalidade em Espanha baixe de ano para ano...

domingo, julho 04, 2004

Birras 

O meu filho está na fase das birras. Sempre que alguma coisa o contraria, sempre que alguém não faz exactamente aquilo que ele pede ou quer, senta-se no chão e abre a goela, num choro estridente que tem o condão de pôr todos os adultos num raio de 100 Km a andar à roda para tentar perceber o que a criança quer. Dizem, no infantário, que faz a mesma coisa, mas que apenas o faz com uma educadora, a que ele prefere e que o acompanha desde os 4 meses.
O meu filho já aprendeu que para se seguir em frente neste mundo é preciso pressionar, lutar pelo que se quer e quando estamos derrotados, berrar a plenos pulmões. Pelo menos assim, chateamos o vencedor até às lágrimas.
Confesso que a minha vontade esta noite era sentar-me no chão e berrar. Eu que acreditei sempre na nossa Selecção, que suei frio e quase tive um enfarte nos jogos da segunda fase. Eu que continuo a adorar ver o Figo jogar à bola. Hoje só me apetecia sentar-me no chão e chorar, até que o árbitro tivesse pena de mim e voltasse a dar início à partida... E desta vez ganhávamos 5-0...
Mas isso agora... Já não adianta...
Assim que o jogo terminou olhei para o meu filho. Estava, como de costume, a fazer uma malandrice qualquer na cozinha da avó. Completamente indiferente às lágrimas do Cristiano Ronaldo e do Rui Costa. Quando ele tiver idade para perceber o que é uma final de um Campeonato Europeu... Lá para 2012... Já o Ronaldo vai ser o patrão da selecção e o Figo e o Rui Costa vão estar a fazer comentários na RTP. Talvez nessa altura ele grite bem alto um golo de Portugal numa final... E não faça nenhuma birra!
Esta noite, veio a dormir até casa. Não havia buzinas na rua. E suspirou de consolo ao meu colo quando o tirei da cadeirinha e o levei para casa e para a cama dele.
A partir de amanhã, voltamos ao normal. Já não vai haver cachecóis, caras pintadas e toda a parafernália de coisas que nos enfeitaram a alma durante os últimos dias. De certeza que o meu filho vai continuar a fazer birras quando se sentir contrariado e a gritar «bólha!» sempre que vir as imagens de um relvado na televisão.
Estamos todos um pouco mais velhos... E um pouco mais sábios... Mas continuamos a ter vontade de fazer uma birra sempre que este maldito futebol nos contraria o desejo de sermos campeões!

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