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segunda-feira, julho 26, 2004

Road Books 

O rali Safari disputa-se no Quénia e é uma das provas automobilísticas mais difíceis do mundo. É considerado pela maioria dos pilotos como o Inferno dos ralis. Daí que, como em quase todas as provas deste género, ano após ano, os pilotos passem entre si os road book do ano anterior, com novas anotações sobre os perigos no caminho, de modo a que os novos concorrentes os possam evitar. Nos outros ralis, a cedência do road book é considerada uma cortesia, desportivismo em estado puro. No rali Safari é uma questão de sobrevivência.
Com a paternidade, é mais ou menos assim. Há uns tempos fomos sair com uns amigos que iniciaram a viagem da paternidade. Ela está grávida de seis meses e eles estão agora a perceber que o bebé vem a caminho e que muito em breve vão deixar de sonhar com o quarto pintado de cor de rosa e os brinquedos arrumados por cores e ter de se preocupar com coisas terrenas, como se há fraldas, se há infantário, se há tempo!
Eles são os pilotos inexperientes. Que se preparam para iniciar o Safari. É nós, para mal dos nossos pecados, não conseguimos evitar ser os pilotos veteranos que acham que devem passar o seu road book de 17 meses de paternidade, para os ajudar no percurso.
Grande erro! Qualquer futuro pai sabe que uma das coisas mais irritantes que pode haver são pais experientes, de meses, a tentarem ajudar-nos no caminho!
Eu devia saber isso! Quando estava à espera do meu filho detestava ouvir as bocas paternalistas dos meus futuros camaradas de paternidade: «Isso é fácil!», «Não há crise, depois dos dois meses passa!», «Uma das coisas que faz mais falta é ter um bom carrinho... E leve!». Mas o que é que eles sabiam?! Comigo ia ser tudo diferente! Para melhor!
Não foi. Quer dizer, nalgumas coisas foi, mas as dicas deram imenso jeito. Nesta coisa da paternidade, o road book é indispensável. Pelo menos para nos livrar de situações limite. Mas a verdade é que, ao contrário do rali Safari, o percurso de um pai é sempre diferente dos seus antecessores. Por muitos road book que nos entreguem pelo caminho, por muitos conselhos bem intencionados, o nosso caminho é só nosso. Para o bem e para o mal. Temos que o descobrir sozinhos e ninguém nos consegue orientar.
Por isso, fica aqui lavrado o meu pedido de desculpas ao nosso casal amigo. A vossa aventura vai ser tão fantástica como a nossa! Mas vai ser vossa. Por muitos conselhos que vos possa ter dado... Vai ser maravilhosa! Única. E não se preocupem... A Luísa não vai gritar «Bólha!» a todos os objectos redondos que vislumbrar no espaço de 50 km! As miúdas são sempre mais sensatas!

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