terça-feira, maio 11, 2004
Pequenas diferenças
Num dos melhores argumentos de cinema do século XX, Quentin Tarantino escreve a serguinte frase, que depois coloca na boca do John Travolta: «Sabes qual é a coisa mais engraçada em relação à Europa? As pequenas diferenças». A frase aplica-se que nem uma luva à paternidade.
Antes de o bebé chegar, os pré-papás e as pré-mamãs podem ter uma de duas atitutdes. Ou anseiam pela mudança, ou passam a vida a converncer-se de que não vai mudar nada, que só vai haver mais uma pessoa lá em casa e que o resto se vai manter na mesma. É óbvio que ao fim de uma semana, das duas uma, ou elegeram um dos membros da família como ama de serviço e continuam de facto a fazer tudo o que faziam dantes, ou então perceberam que estavam errados... Muito errados. Para esses, a paternidade faz muita diferença.
Para quem esperava a mudança, com mais ou menos ansiedade, como eu, a paternidade instala-se e vai mudando tudo, de mansinho. E ao fim de um ano, numa altura em que se faz o balanço, damos conta de que à nossa volta o mundo se transformou. È o mesmo, só que está um pouco diferente.
Antes de o meu filho nascer, o top 10 da minha aparelhagem estava ocupado com nomes Caetano Veloso, Tom Jobim ou Chico Buarque. Hoje, o disco mais pedido é «Canções de Embalar». O meu filho aprendeu a pedir múscia, e embora também lhe agrade o jazz e a bossa nova, prefere de longe as vozes da Sara Tavares e do João Afonso a contar carneirinhos.
E o top de canais de televisão mais vistos vai pelo mesmo caminho. O Panda está a ganhar aos pontos à SIC notícias e com um bocadinho de sorte, uma das primeiras frases complexas que o meu filho vai articular daqui a uns tempos vai ser «Dá cá o comando!» Está-se mesmo a ver tenho que começar a pensar em comprar a assinatura do Canal Disney.
Outra coisa que mudou foi a decoração. Eu e a minha mulher gostamos muito das influências hindus, e por isso as cores berrantes já faziam parte da nossa mobília e acessórios. Mas peças de lego, bolas de futebol, roedores e ursos de peluches são os objectos mais vísiveis em qualquer divisão da casa. Já para não falar das chuchas. Uma em cada divisão, para precaver birras.
E depois há os hábitos diários... Dantes, chegava a casa depois de um dia de trabalho, atirava-me para o sofá e deixava os neurónios adormecer em frente à televisão. Agora... Quando o meu filho decide que já chega de brincadeira, gargalhadas, birras e gritaria e me vem pedir para o adormecer, lá para as 23:30, só tenho tempo de me arrastar até à cama... Ou corro o risco de adormecer no sofá e só acordar na manhã seguinte.
Dantes também ia mais vezes ao ginásio... Agora passo mais vezes de joelhos e de gatas, a correr atrás do meu filho... Não queima tantas calorias, não tem tanto glamour, mas é aérobico.
No fundo, não mudou nada... E mudou tudo. Acho que quem mudou mais fui eu. A minha maneira de olhar para as coisas. As minhas necessidades e as minhas exigências. As coisas sem as quais não podiam passar e que agora me parecem absolutamente banais. As pequenas diferenças que agora constroem o meu mundo e sem as quais, essas sim, já não sou capaz de viver.
E pensar que daqui a uns anos vou ter saudades dos dias em que andava de gatas à procura de mais uma tampa que rolou para baixo de um móvel enquanto o meu filho berra «Tá ti, pai tá ti!»
Antes de o bebé chegar, os pré-papás e as pré-mamãs podem ter uma de duas atitutdes. Ou anseiam pela mudança, ou passam a vida a converncer-se de que não vai mudar nada, que só vai haver mais uma pessoa lá em casa e que o resto se vai manter na mesma. É óbvio que ao fim de uma semana, das duas uma, ou elegeram um dos membros da família como ama de serviço e continuam de facto a fazer tudo o que faziam dantes, ou então perceberam que estavam errados... Muito errados. Para esses, a paternidade faz muita diferença.
Para quem esperava a mudança, com mais ou menos ansiedade, como eu, a paternidade instala-se e vai mudando tudo, de mansinho. E ao fim de um ano, numa altura em que se faz o balanço, damos conta de que à nossa volta o mundo se transformou. È o mesmo, só que está um pouco diferente.
Antes de o meu filho nascer, o top 10 da minha aparelhagem estava ocupado com nomes Caetano Veloso, Tom Jobim ou Chico Buarque. Hoje, o disco mais pedido é «Canções de Embalar». O meu filho aprendeu a pedir múscia, e embora também lhe agrade o jazz e a bossa nova, prefere de longe as vozes da Sara Tavares e do João Afonso a contar carneirinhos.
E o top de canais de televisão mais vistos vai pelo mesmo caminho. O Panda está a ganhar aos pontos à SIC notícias e com um bocadinho de sorte, uma das primeiras frases complexas que o meu filho vai articular daqui a uns tempos vai ser «Dá cá o comando!» Está-se mesmo a ver tenho que começar a pensar em comprar a assinatura do Canal Disney.
Outra coisa que mudou foi a decoração. Eu e a minha mulher gostamos muito das influências hindus, e por isso as cores berrantes já faziam parte da nossa mobília e acessórios. Mas peças de lego, bolas de futebol, roedores e ursos de peluches são os objectos mais vísiveis em qualquer divisão da casa. Já para não falar das chuchas. Uma em cada divisão, para precaver birras.
E depois há os hábitos diários... Dantes, chegava a casa depois de um dia de trabalho, atirava-me para o sofá e deixava os neurónios adormecer em frente à televisão. Agora... Quando o meu filho decide que já chega de brincadeira, gargalhadas, birras e gritaria e me vem pedir para o adormecer, lá para as 23:30, só tenho tempo de me arrastar até à cama... Ou corro o risco de adormecer no sofá e só acordar na manhã seguinte.
Dantes também ia mais vezes ao ginásio... Agora passo mais vezes de joelhos e de gatas, a correr atrás do meu filho... Não queima tantas calorias, não tem tanto glamour, mas é aérobico.
No fundo, não mudou nada... E mudou tudo. Acho que quem mudou mais fui eu. A minha maneira de olhar para as coisas. As minhas necessidades e as minhas exigências. As coisas sem as quais não podiam passar e que agora me parecem absolutamente banais. As pequenas diferenças que agora constroem o meu mundo e sem as quais, essas sim, já não sou capaz de viver.
E pensar que daqui a uns anos vou ter saudades dos dias em que andava de gatas à procura de mais uma tampa que rolou para baixo de um móvel enquanto o meu filho berra «Tá ti, pai tá ti!»