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sábado, abril 03, 2004

Ser pai é ser priotário 

Pode parecer mentira mas ainda há quem só saiba apontar desvantagens à paternidade. E não falo de comentários emanados de celibatários e monges fransciscanos. Há mesmo pais, de primeira e segunda viagem, que a única coisa que têm para dizer sobre a sua experiência de paternidade são... As coisas más.
É certo que desde o dia em que sabemos que vamos ser pais, muda tudo. Nunca mais somos senhores do nosso mundo. Porque aquela coisa pequenina que está a crescer e que vai nascer, nos tira o tapete debaixo dos pés e nos torna totalmente vulneráveis. A tudo. E depois há as noites sem dormir. Acho que nas últimas 400 noites devo ter dormido uma 250 seguidas... O que bem vistas as coisas, não é nada mau! E também há os dentes e as febres, e as diarreias e os vómitos e as quedas e os choros, e as birras e as asneiras. Enfim... Não é fácil. Mas não tem que ser.
E por mais desvantagens que haja, ao sermos pais abre-se um mundo de novas possibilidades, de acesso exclusivo a quem tem um filho. E isso, é uma grande vantagem!
Por exemplo... No dia-a-dia... Vamos a um centro comercial, dos grandes... Acabaram-se as horas à procura de lugar. Há sempre lugares para pessoas com crianças. E apesar de, nalguns centros, os lugares ainda serem poucos, em comparação com o número de famílias visitantes, estão lá sempre. Junto às entradas, mais largos, amarelos, um verdadeiro lugar VIP. Depois, nos hipermercados, há as caixas prioritárias, para pais, futuros ou presentes. E há os descontos para papás com crianças, nos museus, nos parques de diversões, nos estádios. Até fizeram o favor de nos criarem umas casas de banho próprias para mudar as fraldas, patrocionadas pelas grandes marcas para bebé!
Ser pai é ser prioritário, em tudo! Até a entrar para os aviões! O que é que pode ser mau?
Desconfio que os arautos do pessimismo paternal são daqueles que, como indica um estudo norte-americano mais ou menos recente, (só os americanos é que têm tempo e dinheiro para perder neste tipo de estudos), só se apercebem realemente que são pais e que aquela criança barulhenta que lá anda por casa é sua, dois anos depois do nascimento.
O que quer dizer que andam a evitar a realidade até ao máximo. E que para eles, a criança é um hóspede barulhento, que lhes foi perturbar a rotina e os afastar da mulher.
Pois bem, para este tipo de pais, aplica-se uma simples e contundente máxima: «Quem não quer ser pai, nunca será». O problema vai ser quando os filhos descobrirem.

Febre 

Um bebé com febre é sempre uma preocupação. Nos últimos dias o meu bebé tem tido febre. Nada de muito relevante. Mas o suficiente para me fazer ficar em casa e não poder trabalhar, o mesmo acontecendo com a mãe, em dias espaçados. Um bebé com febre é uma preocupação. Porque temos de estar alerta. Porque ele ainda não se queixa com precisão do que é que lhe dói, porque temos de contar as horas entre as doses de Ben u Ron e porque eles ficam mesmo murchos. E quando começam a dar mostras de melhoras, é uma alegria.
Ter ficado em casa um dia inteiro com o meu filho deu-me que pensar. O dia passou mais depressa... Porque dormimos quatro horas seguidas, a meio do dia, e porque a rotina já está muito bem montada e oleada.
E também porque a minha cabeça esteve presa apenas aos problemas realmente importantes. Tem febre? Não tem. Tem sede? Tem. Tem cocó? Não tem. Quer dormir? Não. Quer brincar? SIM! Ou seja, desliguei o cérebro das estratégias diárias de resolução de problemas e gestão de conflitos, para deixá-lo num estado de sistema binário de sins e nãos, que simplificam a vida e a tornam mais pura. Para mim foi um bálsamo relaxante.
À parte de ter um bebé doente ser sempre muito chato, foi bom poder, pela primeira vez em alguns meses, aplicar a sério a divisão de tarefas. Ainda não tinha ficado, de facto, um dia inteiro com o meu bebé em casa. Porque a minha mulher estava a trabalhar como free-lancer e acabava por acarretar com o trabalho todo... É sempre bom poder pôr em prática as nossas teorias... E sair bem das tarefas!
O bebé já está melhor...

segunda-feira, março 29, 2004

Os pais também querem! 

A revista «Time» publica na sua edição de 22 de Março um artigo extenso sobre o crescente dilema que se põe às mães modernas: Colocadas entre uma carreira absorvente e a tarefa diária de educar uma criança, as mães são levadas a ter de optar. Ou trabalham ou ficam em casa.
O tema ainda pode ser discutido em países civilizados e ricos, como os Estados Unidos, o norte da Europa e provavelmente o Japão, embora neste último caso, as mães sejam muito poucas, porque as mulheres pura e simplesmente não querem ter filhos e preferem ter uma carreira. Mas eles também comem peixe cru, por isso...
A questão é pertinente. Como é que se educa uma criança trabalhando 8 horas diárias? Como é que se tem tempo para as brincadeiras de uma crinaça de um ano se trazemos trabalho para casa ao fim de semana. Como é que se consegue passar as tardes a jogar à bola com o nosso rebento, se temos de fazer todos os dias mais de 50 km para ir de casa ao trabalho e metade desse caminho é passado em engarrafamentos?
A ginástica é dura e rivaliza com qualquer aula de Total Condition, BTS, MMS, CCM ou o raio das coisas que os ginásios inventam para nos criar a sensação que estamos a queimar calorias!
Uma criança absorve todos os segundos à sua volta, enquanto está acordada. E mesmo quando adormece, nunca estamos completamente desligados. Ora tosse, ora choraminga, ora é a fralda, ora é a chucha. Além disso, há ainda aquela parte de sentirmos que a vida nos escorre por entre os dedos e que se o nosso filho já tem seis dentes e nós não demos por isso, que sentido é que faz matarmo-nos trabalhar para mais tarde lhe pagarmos o dentista?
Nos Estados Unidos a questão é ancestral. Tão ancestral, que nos anos 90, os autores do «Baby Blues», o maná de qualquer pai recente, já brincavam com a escolha da Wanda de ficar em casa para cuidar da sua filha... E com todas as dúvidas existênciais de uma mulher que deixa uma carreira para ser mãe a tempo inteiro.
Pois é... Brincavam. Mas a questão é séria. Para a mulher, é sempre uma escolha entre o passado e o futuro. E é sempre envolta pela sombra de se estar a ceder à sociedade machista. Porque, se a mulher escolhe ficar em casa, vai ser como a mãe, ou como a avó. Não é a mãe dedicada, é a mulher submissa. Não é a mãe estremosa e preocupada com o desenvolvimento do filho. É a mulher que perdeu a batalha da independência. E são as outras mulheres as primeiras a apontarem o dedo. As primeiras a pô-las na prateleira das derrotadas.
O mais engraçado é que nunca perguntam aos homens se eles gostavam de escolher entre trabalhar ou ficar em casa a cuidar da criança. Acho que a razão principal é que nenhuma mãe teria coragem de deixar o filho em casa com o pai. Mas acredito, ou pelo menos quero acreditar, que há muitos homens que responderiam afirmativamente ao desafio.
Eu sei que gostava de estar em casa a cuidar do meu filho. Gostava de me dedicar a 100 por cento a essa tarefa. Acho que não há nenhuma actividade mais gratificante.
Sei que nos próximos 100 anos, Portugal não vai ser um país em que as remunerações permitam às famílias abdicarem de um dos ordenados. Nem, vai ter um sistema de Saúde Pública e de Segurança Social condigno. Nem sequer vai proteger mais a marternidade e apoiar as famílias numerosas. Mas talvez cheguemos à meia final do Euro...
Enfim... Se esse dia vier... Vou estar na primeira fila para tirar a senha. Acho que não há dinheiro que pague ter tempo para dar voltas no parque com o nosso filho, ensiná-lo a jogar à bola, poder ir buscá-lo todos os dias ao infantário e poder fazer longos lanches com ele. Se um dia me perguntarem se quero ficar em casa com o meu filho eu respondo sim. Sem hesitar. Até esse dia chegar, estico as horas e navego pelas madrugadas para cumprir prazos e entregar trabalho...
A vida é dura, mas quando ele me sorri, esqueço as dores nas costas e nos olhos e penso só em fraldas, brinquedos, férias na Eurodisney e essas coisas boas...

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